Ressocialização de menores infratores?

Internos da Fundação Casa apostam em cursos técnicos para recomeçar, este é o título de uma matéria que me deixou pensativo. Confiram a matéria do G1 aqui.
Às vezes me sinto esquizofrênico, como se o mundo que me perturba, com tanta desigualdade e escravidão, fosse fruto apenas da minha insanidade, penso: “é possível que eu esteja vendo demais?”. Parece que é uma questão de escolha mudar de vida e prosperar.
Pode ser que eu realmente esteja louco, pelo menos devo considerar que no mínimo possa estar completamente fora da realidade. Nesse caso quero expor meu pensamento, e posteriormente mudar no que for necessário.
Quando li a matéria, a primeira preocupação foi:
A educação, apoio, passado a esses jovens lhes permitem ter qual visão de seu meio?
Eu quero dizer, como eles se veem dentro da sociedade?
E como eles veem esta sociedade?
Quero deixar claro que apoio que eles se profissionalizem e trabalhem, é melhor isso que morrer no crime ou estar preso.
Porém, a visão desses jovens sobre a sociedade e si mesmos é muito importante, não só para mantê-los fora do crime, também para não frustrá-los, para acendê-los na luta contra o racismo, exploração da classe trabalhadora, e a produção da miséria. Mas afinal, de qual vida nova que estamos falando?

Pois para mim, o curso técnico, faculdade, emprego, tudo que nos é vendido como o futuro, esta fadado a falhar, pois o sistema não nos vê como pessoas ou seres, o sistema trabalha para si mesmo. Digo isso porque em todos esses anos não foi só o número de formandos, de cursos ou escolas que cresceu, o número de presidiários, miseráveis, os assassinatos têm aumentado e muito, ou seja, mesmo com tanta evolução tecnológica, produção, em uma era de internet onde a informação está na mão de qualquer um, a sociedade caminha para o desespero.
A miséria e diferença social continuam a crescer. Elas são as principais causas de tantos crimes, mas o que estaria por de trás dessa falência social? Políticos corruptos? A lei?
Empresários milionários que compram políticos e fazem leis?
É necessário que se investigue isso, pois como seres humanos, quais os nossos direitos?
Saber como utilizar um cartão de crédito?
Aprender a dirigir?
Utilizar uma nova tecnologia?
E quanto ao dinheiro?
De onde vem?
O que é o sistema mercantil e monetário?
E a política?
Porque ainda dependemos de petróleo?
Porque certos países estão em guerra?
Nós estamos em guerra?
   

         Escolher de qual destas questões você quer a resposta é escolher o seu lado nesta guerra.

“AH MAIS TODO TRABALHO É DIGNO E ESSES JOVENS PODEM SE FORMAR E SER O QUE QUISEREM”

É ai que a minha cabeça trava, exatamente neste ponto, não creio que todos tenham oportunidades ou espaço para ser o que escolheram somente porque de repente decidiram.
Digamos que um trabalhador procure se destacar para crescer e com um melhor salário possa atender melhor ao consumismo plantado nele e possa pagar por uma melhor moradia, educação, segurança e saúde. Ao atingir seus ideais, como não culpar os que ficaram para trás pela miséria em que se encontram?
Como não dizer que é culpa deles sendo que você se mexeu e conseguiu?
       Talvez seja difícil responder a esta questão, mas podemos reformulá-la: Se os outros tentarem assim como ele, com o mesmo animo, desejando melhorar, se profissionalizando, todos teriam essa ascensão?
Quantos cargos bem remunerados (aquele salário que você gostaria ou se aceita receber, não aquele que você diz que para o outro que já está bom) uma empresa oferece?
O que acontece quando há muitos profissionais de certas áreas em uma cidade?
É ai que entra o que eu chamo de Avaliação e Adaptação.

O homem tem uma capacidade grande de se adaptar, aquele jovem, sem que perceba se avalia, entende que é preto, pobre, que não adianta mais se revoltar e querer o que outras classes possuem, ele olha para aquele instrumento de trabalho e vê vida ali, sim, o trabalhador se adapta, é capaz de passar mais de uma década no corte de cana e não cair na marginalidade ou desespero, e alias, te dá um bom dia mais animado que muitos trabalhadores sem calos nas mãos ou pele queimada do sol. Mas eu pergunto: Sujeitar uma pessoa a isso não é subjugar uma raça, um povo, para o sustento de outra raça, outro povo?
Não é exploração?
Uma vez que vemos que uma gigantesca massa precisa ser mantida em certos níveis sociais para que poucos lucrem muito.
            Quais foram os erros destes jovens?
O que é que está errado?
Ter algo de forma fácil ou rápido é errado? Pois é assim que os filhos da classe média têm as coisas. Fácil e rápido!
Ok os país trabalham duro não é, sim, vai ver então os país que não podem dar a seus filhos o que a insistente propaganda diz que eles precisam ter não trabalham muito não é?
E o estudo?
A escola periférica, ela oferece o que ao adolescente?
Uma chance para concorrer com os demais e ser o vencedor que em fim consegue suprir com trabalho honesto seus desejos de consumo.
Ou uma qualidade mais básica, que produz os bens de consumo para outras classes e tem um poder menor de consumo, porém condições básicas para estar empregado?
Para mim, qualquer uma dessas opções é uma merda.
Creio que vivo em um mundo que não só explora toda uma raça e gera miséria como também caminha para guerras gigantescas e total destruição ambiental. Então educação, para mim, é saber se reconhecer como ser explorado e alienado e partindo desse ponto, se organizar e lutar contra isso.
Precisamos nos preocupar em “desvendar o inimigo” e aprender a melhor forma de lutar. Pois não creio que todos irão aceitar seu lugar de explorado, de escravo, então sempre haverá o crime, as mortes. Além disso, a vários outros mil problemas e razões para nos pormos a lutar contra este sistema genocida.
            A reportagem não diz, e acho que nem diria, se os jovens sabem que estão sendo explorados e marginalizados, e para os leitores, ela passa a mensagem errada de que aqueles jovens são os culpados por estarem na fundação, pois não se educaram antes, mesmo estando matriculados em escolas, e agora os que aceitaram a educação oferecida na fundação sairão do crime e desfrutarão de outra vida, sendo assim, o leitor pode fazer uma lógica em que o ambiente prisional funciona e é o melhor, pois estes jovens na rua estavam no crime. Ela sugere que é questão de escolha o crime e que a prosperidade está na profissionalização, pois alguns decidiram se profissionalizar ao em vez de se por como vítima e agora irão desfrutar de um mundo novo. Neste caso, realmente o remédio para quem não quer sair da vida marginal seria encarceramento o resto da vida. Se eles não aceitarem o seu devido lugar na sociedade, é morte ou cadeia.
"O nosso trabalho vai na contramão da punição. O objetivo é estimular os meninos na ressocialização, mostrar que existem outros caminhos. Quando a gente tem resultados de jovens que buscam pela qualificação, é muito gratificante porque é isso o que move a nossa equipe. A nossa parte é oportunizar"
    Sobre essa frase acima, retirada da matéria, eu penso nestas palavras: Ressocialização, Caminhos, Qualificação, Oportunizar.

Ressocialização? O cidadão já socializado sente as mortes por minuto que este país que não esta em guerra declarada apresenta? Ele se manifesta perante o racismo que joga inocentes todos os dias em cadeias, onde a maioria nem foi julgado, onde apenas polícias foram testemunhas?
Este cidadão socializado, que trabalha e paga suas contas, admite ou não as crianças mortas de fome nas ruas?
Caminhos? Qual caminho nos fará não mais presenciar esta desigualdade social, este genocídio dos negros, das mulheres, dos homossexuais, dos indígenas? A exploração dos países centrais sobre os países periféricos? As guerras, a fome?
Qualificação? Esta palavra faz crer que infelizmente quem sofre o drama da miséria o sofre por não estar qualificado, e esta qualificação é a chave. Porém eu pergunto, há espaço para todos se qualificarem? Se todos quiserem se qualificar, há área de atuação para todos desfrutarem de bons cargos e salários?
Oportunizar? Eu vejo essa oportunidade da seguinte forma; “nós iremos te estruturar para seguir com a vida assim como ela está, escolha um cantinho para levar a sua vidinha e fique lá, se você não se comparar com um cidadão ou cidadã branca, livre, de família rica, você ficara bem, pois comparado aos seus antepassados que viviam em senzalas a vida está bem melhor já.”. Oportunidade de servir a quem é realmente livre para viver o mundo.

Eu quero deixar claro que não julgo quem esta nesse processo de educação, trabalhando com esses jovens. Não estou acima de ninguém, e ainda é melhor ser escravo do patrão que morrer por bens de consumo ou estar preso. Só quis demonstrar o meu grau de esquizofrenia que não permite que eu aceite esta atual realidade. Quando eu tiver a oportunidade de falar com esses jovens (e eu vou fazer de tudo pra isso) não será para “ressocializá-los” ao mundo que os jogou na prisão, também não será para sair distribuindo armas e muito menos dizer que todos são obrigados a lutar. Mas trabalhar o necessário para que todos se reconheçam como seres e saibam reconhecer bem o seu meio. Saber se reconhecer na sociedade os ajudarão a não se culparem por não estarem exatamente onde gostariam. A maioria dos pobres se culpa por isso. Não entendem o motivo de tanto sofrimento mesmo após tanto trabalho e simplesmente se colocam como inferiores.
Eles precisam reconhecer no seu próximo um ser humano assim como eles, é claro que isso vai dificultar certas doutrinas de “Gestão” em que você precisa derrotar alguém pra se dar bem.
Exemplo, quando um eletricista pegar um trabalho por ter oferecido um preço mais baixo, como concorrentes, estes jovens, terão de pensar que todos precisam trabalhar e há pessoas em condições piores que a deles.
Também verão que há grandes empresas que monopolizam o mercado e pagam muito pouco para seus funcionários e podem assim oferecer um serviço por um preço menor, e sempre haverá pessoas em situação de pobreza que precisarão aceitar trabalhar por pouco. Amanhã até eles podem ser mais um entre os que desistiram de serem autônomos para serem funcionários por não terem chances de concorrer.
Parece que humanização ou humanidade e concorrência de mercado, que é simplesmente sobrevivência neste sistema, não andam de mãos dadas.
            Eu acredito na educação, a educação onde o foco não é aceitar a sua pobreza e se profissionalizar crendo que apenas esse é o segredo do sucesso, nos põe a lutar, na medida em que vamos desvendando o sistema, porém, será que essa luta é desejada?
Quem gostaria de ver o povo se movendo?
Todos a fim de lutar por igualdade?
Nós já sabemos a resposta do sistema contra quem se rebela. De Gandhi a Che Guevara, e nem todos estão na pele da classe que produz, ou daqueles que nem possuem carteira assinada para se arriscarem por quem é mais atingido pelo sistema.
Precisamos pensar, podemos gostar de ajudar e tal, sentir pena ou sentir que algo esta errado então querer contribuir, mas em qual sistema nós nascemos? Do que nós desfrutamos? A custa de quem?
Até que ponto nós teremos coragem de encarar a realidade?
Será só até o ponto em que ela ainda nos permita desfrutar de nossos privilégios, sem abrir mão desta estrutura onde nós ainda estamos prosperando a cada ano enquanto o genocídio continua firme e forte?

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